Entrevista publicada no
Jornal D'AlenquerQuando chegou à presidência da Freguesia encontrou um cenário catastrófico com mais de doze mil contos de dívidas e confrontado com duas penhoras que condicionaram o exercício do seu mandato agora a chegar ao fim. Hoje diz que a Freguesia não deve nada a ninguém e que fizeram belíssimos investimentos, não conhecendo nenhum mandato anterior que tivesse investido tanto como este executivo.
PORQUÊ ESTA SUA NOVA CANDIDATURA?
A razão da minha recandidatura é dar continuidade ao que ficou por fazer do mandato anterior. Ultrapassamos as dificuldades, hoje vivemos num bom ambiente nesta Junta, há respeito pelas coisas, existem normas de funcionamento, que não havia antigamente, em que por exemplo, se condiziam carrinhas sem carta e andava-se por aí a fazer rallye. Hoje temos duas carrinhas para as escolas e de apoio às colectividades, vai sempre o motorista habitual, para que o equipamento seja estimado. Se não houver motorista vai alguém do executivo, que posso ser eu, que até sou motorista de profissão.Passou a haver mais respeito, mais tranquilidade, isso estimula a freguesia e dá bom ambiente. E por isso assim as coisas funcionam melhor, e a prova está no saldo...
DAR CONTINUIDADE AO MANDATO ANTERIOR É O CHAVÃO HABITUAL!...
Há quatro anos quando vim para aqui, encontrei uma situação complicada e de difícil solução, por isso há coisas que tínhamos no nosso programa do mandato anterior que ficaram por cumprir, mas também fizemos muitas obras que não estavam no programa, mas encontrámos coisas mais urgentes e necessárias de acudir; uma delas foi o endividamento que esta Junta tinha e que ninguém sabia: na altura, quando tomámos posse, eram vinte e dois mil e quinhentos euros (quatro mil e quinhentos contos) a pagar a fornecedores; estavam à espera de receber dinheiro da câmara, de receitas, que diziam que faltavam receber, mas afinal nem isso era verdade: Por outro lado, em vez dos quatro mil quinhentos e doze contos descobrimos que eram mais de doze mil contos de dívidas.
FOI UM MOMENTO COMPLICADO!
Se foi. Foram movidas duas certidões de penhora à Junta de Freguesia: a primeira da Segurança Social, em que fomos a Lisboa negociar a dívida e andámos um ano a pagar; depois disso apareceu a Inspecção das Finanças com mais uma certidão ainda mais antiga referente a contribuições à Segurança Social. Felizmente hoje está tudo pago, não devemos nada a ninguém, nem a fornecedores nem a trabalhadores. E a funcionária administrativa, que estava cá há cinco anos e que só recebia o ordenado sem descontar para lado nenhum, hoje está legalizada e é funcionária pública.Além disso fizemos belíssimos investimentos e muitas obras. Não conheço nenhum mandato anterior que tivesse investido e que tenha feito tanta obra como nós.
INVESTIRAM EM QUÊ?
Comprámos uma carrinha para o transporte dos alunos; comprámos uma camioneta de caixa aberta com báscula, para as obras da Freguesia; e estamos à espera de uma retro-escavadora; tudo novo.
E AS OBRAS, QUAIS FORAM?
Por exemplo, no apoio à agricultura, em que reparámos e alargámos alguns acessos, ligámos mesmo algumas povoações, como Cabanas do Chão e Estribeiro. Construímos três pontes e reparámos uma, com tabuleiros de seis metros de largura, feitas de betão armado, bem melhores que as antigas feitas de anilhas de cimento, que suportam camiões e tractores. Mas ainda faltam mais duas pontes. Em termos de caminhos vicinais também renovámos alguns, por exemplo nos Casais da Pedreira, um caminho de cerca de 3 km muito inclinado, feito em macdame, temos “aquilo” transitável como nunca me lembro que estivesse; e as pessoas reconhecem. Antigamente sempre havia aqui reclamações, e hoje não há, porque assim que ouvimos alguma coisa, acudimos às situações.
MAS AINDA FALTARÁ MUITA COISA À FREGUESIA.
Temos algumas prioridades, embora nem todas as obras sejam da responsabilidade da Freguesia, e nem a Freguesia tem capacidade para elas, mas é um dever nosso pressionar para que as coisas andem para a frente.
Por exemplo, faz falta um Centro de Dia na Freguesia; existe muita procura, e é um desejo da população. Já existiu uma comissão para esse efeito, com direcção constituída, mas acabou por cair por terra, segundo dizem, por falta de apoio.Também faz imensa falta um posto médico porque o que temos não tem condições; as pessoas têm que se levantar de madrugada e depois estão na rua à espera para serem atendidas. É insuficiente e os utentes desta freguesia não merecem esse castigo. Já há um projecto para um Posto Médico mas não sei para quando, pois já tem sido previsto no Orçamento de Estado, mas tem sido sempre rejeitado.
Outra prioridade é a construção de um mercado diário, que faz muita falta. Já existem aí supermercados, mas há aquela tradição que não gostava de ver perdida, e depois também temos muitas solicitações, principalmente de pessoas ligadas à agricultura, que gostavam de expor os seus produtos aos consumidores.
QUAL TEM SIDO A APOSTA NO TURISMO?
Existe o complexo turístico da Quinta da Abrigada, um investimento do sector privado, onde estão a ser feitas infraestruturas, hotéis, campos de golfe, muitos quilómetros de estradas; é um bem que vai criar desenvolvimento, com muitos postos de trabalho.
O empedramento do rio em frente ao Lar da Sãozinha, que é um cartão de visita do concelho de Alenquer, está degradado e é também uma prioridade; a construção de um Parque de Merendas na Atouguia e o melhoramento daquele largo junto à Capela, é outra prioridade.
ABRIGADA ESTÁ BEM SERVIDA EM ACESSOS?
Está razoável; faltam algumas variantes para tirar o trânsito de Abrigada e Cabanas do Chão principalmente, talvez com a vinda do aeroporto as coisas acelerem...
QUAL É A SUA OPINIÃO SOBRE A VINDA DO AEROPORTO PARA A OTA? Tenho algumas reservas, mas se a questão for bem estudada, se forem feitas infraestruturas que acompanhem o desenvolvimento que o aeroporto irá trazer, sou favorável à ideia. Têm é que ser criadas condições para que os cidadãos se sintam seguros e tranquilos, porque aqui quase todos nos conhecemos e estamos habituados a um estilo de vida, somos quase uma família, por isso é preciso acelerar o desenvolvimento e criar condições para os que cá vivem e para os que vão vir.
SENTE-SE CONFIANTE, SENTE O APOIO DAS PESSOAS?
Sim. Por vezes não se vota nas pessoas porque estão descontentes, porque cada um tem a sua ideologia política; deve haver quem queira fazer alguma crítica... se calhar só se fazem na minha ausência... mas não tenho tido conflitos nem críticas abertas; aparecem até mais pessoas a darem força.
QUAL É O ORÇAMENTO DE UMA FREGUESIA COMO A DE ABRIGADA?
O orçamento para um ano é de cerca 27 mil contos (135 mil euros). Temos algumas ajudas da câmara, temos as carrinhas de transporte para os infantários que também nos dá algum rendimento, alguma venda no cemitério, temos também uma percentagem na cobrança recibos da água, aquelas taxas comuns a todas as freguesias. Mas não temos as fontes de receita como algumas freguesias que eu conheço fora daqui, como pedreiras, propriedades ou arrendamentos dos moinhos eólicos.
UMA PREOCUPAÇÃO QUE ALGUMAS FREGUESIAS TÊM NO CONCELHO DE ALENQUER É A DEBANDADA DOS JOVENS PARA OUTROS LOCAIS. ACONTECE O MESMO EM ABRIGADA?
Houve um período em que os jovens iam muito para Alenquer e Carregado principalmente. Hoje em dia alguns estão a voltar, porque começaram a nascer algumas urbanizações que deram a possibilidade dos jovens se manterem por cá.
TÊM HAVIDO MUITO DESEMPREGO AQUI EM ABRIGADA?
Recentemente foi extinta a “Avimetal”, nas Marés, em que muitos trabalhadores ficaram sem emprego, tem-se mantido a fábrica de refractários de Abrigada, que emprega muita gente. Trabalho ainda vai havendo aqui na terra, não para todas as especialidades, mas ainda há.
HOUVE MUITOS FOGOS ESTE ANO?
Este ano houve menos fogos que em anos anteriores, também porque já há menos para arder... mas houve alguns, mas já eram “habitué”, tentativas de libertar as coisas, os terrenos, os matos...
Por: Mário Rui Freitas